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pesquisa

    Para os Hanimais Hestranhos, interessa se desviar das noções de identidade que fixam o sujeito em ideias, afetos e/ou ações repetitivas e mecânicas. O esforço do trabalho é fazer com que o comportamento atoral trabalhe na percepção (ou criação) de outros regimes de sensibilidade e outros modos de subjetivação menos assujeitados, menos individualizantes. Buscamos a natureza transitória do fluxo criativo, inspirados por textos que servem de impulso para o que consideramos como questões centrais da atuação: quem é esse 'eu' que atua? Com que 'eu' se atua? Para que 'eu' se atua? Ou, como atuar pode ser deparar-se com diferentes modos de subjetivação?

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Onde agora? Quando agora? Quem agora?

         O Inominável, Samuel Beckett

    Achávamos fundamental “falar de eu”, “falar de nós”, mas intuímos que era necessário arriscar-se a falar um pouco ‘sem si’, a falar, assim, próximo do inominável, para poder justamente falar daquilo que nos atravessa.

   Os Hanimais Hestranhos se dedicam a investigar a transitoriedade,a efemeridade, o fluxo, a memória, a partir da escuta do que se passa no/com o corpo, através do contato com o texto, o figurino, os objetos, o espaço e os outros.

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Em O Inominável, a primeira pessoa é verdadeiramente uma assombração, ela está lá como um fantasma ao qual não se acredita demasiadamente. Ela é mais um ponto de interrogação do que um ponto final. A primeira pessoa aceita sua instabilidade, aceita ser reconduzida a uma pergunta (eu, quem?) – lugar de onde não deveria ter saído. Além disso, há um cansaço, um esgotamento (a manutenção de uma identidade é exigente/cansativa para o ser e sua ‘natureza’ fluida e instável).

Tatiana Motta Lima

      Em confluência com os textos de Beckett e Pessoa, formas insuspeitadas conferem aos corpos uma potência, pois é na instabilidade de não conseguirem estabelecer o que são e na recusa de identidades  fechadas e lugares comuns, que abrem-se caminhos para novas possibilidades de sentir, de fazer e de existir. Ao lutarem contra as formatações, as convenções, a previsibilidade e o desejo de controle, de segurança e de fixação, os corpos, assim íntimos da impermanência, não cessam de se modificar e de se abrir a essa multiplicidade. A pergunta feita por Eveline Grossman, a partir dos textos de Beckett, nos interessa: “Qual sujeito sem figura se fará intérprete de uma figura sem sujeito?” Um ‘sujeito sem figura’ talvez seja aquele que não foi cooptado inteiramente pelos processos de enunciação, de representação, onde ainda há espaço para o inominável, o irrepresentável, para o que não se quer ver. Uma ‘figura sem sujeito’ pode ser aquela que revela, já que puro artifício, a linguagem como mecanismo, como máquina de produzir indivíduos. Esses borramentos poderiam impactar a audiência, convidando-a, quem sabe, também a outras aventuras subjetivas.

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